domingo, 2 de março de 2008

O Soneto Favorito de Meu Pai (e Meu)






VELHO TEMA

Soneto de Vicente Augusto de Carvalho, Paulista, 1866-1924


Só a leve esperança, em toda a vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada;
Nem é mais a Existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.

O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz, ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada,
E que não chega nunca em toda a vida.

Essa Felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,

Existe sim: mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos,
E nunca a pomos onde nós estamos.



Este sempre foi o soneto favorito de meu pai, que o repetiu para mim inúmeras vezes, sem que eu nem conseguisse decora-lo, nem dele me esquecer. Duvido que ele jamais tenha sabido que Augusto de Carvalho era Paranasiano, ou o que era "parnasianismo", mas ainda tenho tempo de mostrar, explicar-lhe...
Há tempos (anos) achei uma cópia que meu pai ‘datilografou’ e me deu... Serei sempre grato por ele ter me viciado em "ler" desde o momento em que me alfabetizei. "Leia da Bíblia (ele era ateu) até a Playboy," ele me dizia gesticulando com uma mão para cada extremo, "e tudo o mais que estiver no meio". Obrigado, pai Eron.
Sempre fui curioso. Comecei a aprender Inglês aos 8 anos, ouvindo as trilhas da matinê nas boas caixas acústicas do hoje defunto Cine Prata, na av. Julio Buono, em São Paulo (primeiro virou um depósito de verduras, depois um "bailão" nordestino e hoje não sei.). Eu absorvia tudo como uma esponja, e logo estaria lendo (compradas de segunda mão) a Mecânica Popular (em Inglês ou em Espanhol, e Flying Models, e Model Airplanes News... Olhando para trás, foi essa 'cultura' variada e de curiosidade saciada que me salvou em tempos bicudos - e acho até que não ter Internet naquele tempo foi bom. Tem gente hoje que nem sabe fazer contas (cálculos) manualmente...
Mesmo (ou principalmente) em serviços de traduções profissionais, onde supõe-se que o quesito "precisão da transposição de conteúdo" seja de mesmo nível entre os competidores desse serviço, ter a cultura do nicho específico é o que te diferencia.
Passou o tempo, passei dos 50, e vejo novos conteúdos neste soneto, a cada vez que o releio. Hoje é a era da busca na internet, e eu posso divulgar o soneto, a biografia (com crédito do site de onde eu roubei a informação e a foto! - Por favor, não me processem!:-))


Via Google, encontrei em http://www.culturatura.com.br/autores/bra/vicente.htm a seguinte biografia:

Vicente de Carvalho

Vicente Augusto de Carvalho, advogado, jornalista, político, magistrado, poeta e contista, nasceu em Santos, SP, em 5 de abril de 1866, e faleceu em São Paulo, SP, em 22 de abril de 1924. Eleito em 1o de maio de 1909 para a Cadeira n. 29, na sucessão de Artur Azevedo, foi recebido na sessão de 7 de maio de 1910, por carta.
Era filho do major Higino José Botelho de Carvalho e de Augusta Bueno Botelho de Carvalho. Fez o primário na cidade natal e, aos 12 anos, seguiu para São Paulo, matriculando-se no Colégio Mamede e, depois, no Seminário Episcopal e no Colégio Norton, onde fez os preparatórios. Aos 16 anos matriculou-se na Faculdade de Direito. Em 1886, com 20 anos, era bacharel em Direito. Republicano combativo, cursava ainda o 4o ano quando foi eleito membro do Diretório Republicano de Santos. Em 1887, era delegado a Congresso Republicano, reunido em São Paulo. Em 1891, era deputado ao Congresso Constituinte do Estado. Em 1892, na organização do primeiro governo constitucional do Estado, foi escolhido para a Secretaria do Interior. Por ocasião do golpe de estado de Deodoro, abandonou o cargo que vinha exercendo. Mudou-se, então, para Franca, município do interior paulista, e tornou-se fazendeiro. Em 1901, regressou a Santos, dedicando-se à advocacia. Em 1907, mudou-se para São Paulo, onde foi nomeado juiz de direito. Em 1914, passou a ministro do Tribunal da Justiça do Estado.
Vicente de Carvalho foi, durante toda a sua vida, um jornalista combativo. Até 1915, sua atuação na imprensa foi quase ininterrupta. Em 1889, era redator do Diário de Santos, fundando, no mesmo ano, o Diário da Manhã, de Santos. Ali manteve ainda colaboração em A Tribuna e fundou, em 1905, O Jornal. Até 1913 colaborou no Estado de S. Paulo. No fim da vida, cansou-se do jornalismo, mas continuou em contato com seus leitores através dos versos que publicava nas páginas de A Cigarra.
Poeta lírico, ligou-se desde o início ao grupo de jovens poetas de tendência parnasiana. Foi grande artista do verso, da fase criadora do Parnasianismo. Da sua produção poética ele próprio destacou poemas que são de extrema beleza, como: "Palavras ao mar", "Cantigas praianas", "A ternura do mar", "Fugindo ao cativeiro", "Rosa, rosa de amor", "Velho tema", "O pequenino morto".

Um comentário:

Papillon disse...

Ola Eron,

Queria agradecer a visita a meu blog e o comentário, demoro a responder mas leio sempre os poucos comentários que recebo.

Adorei seu blog, me lembra os tempos que ainda adolescente ficava a admirar os modelistas no Pq. Sampaio Correia no Tatuapé.

Grande Abraço

Luiz